Às vezes me pergunto se carrego um ímã para os amores que não se concretizam.
É como se eu fosse feito de promessas não cumpridas, de inícios intensos que não encontram meio, tampouco fim.
Eu sou inteiro.
Sou romântico até a última vírgula, amável até onde posso, ciumento quando o coração aperta — não por posse, mas por medo de perder.
Eu sou monogâmico, mas flerto com a vida, com os sorrisos, com a poesia dos encontros.
E, mesmo assim, mesmo sendo tanto, quase sempre sou apenas um quase.
Quase deu certo.
Quase foi.
Quase ficou.
Há despedidas que não se dizem com a boca, mas com o silêncio que sobra quando o outro já não está mais lá.
E foi nesse vazio que eu percebi que mais uma vez, estava diante de um amor que não se realizou — não por falta de sentimento, mas por falta de coragem, de presença, de reciprocidade em sua forma mais inteira.
Esse último quase me atravessou com uma delicadeza cruel.
Você chegou leve, sorrindo com os olhos, me deixando entrar devagar no seu mundo.
E quando me senti confortável o suficiente para ficar, você estava preparando suas malas para partir.
Disse que era pelo trabalho, pelas circunstâncias, pelo futuro.
E eu...
Eu estava planejando o presente. O agora. O pedido. O gesto.
Eu sou feito de amor — amor desses que transborda, que se entrega mesmo quando sabe do risco de não ser acolhido.
Não sei amar pela metade, não sei ser ponto de apoio eventual, não nasci para ser o tempo que sobra no dia de alguém.
E mesmo assim, sempre volto a tentar. Volto a me entregar. Porque acredito, ainda, que o amor verdadeiro não chega com medo, não se esconde atrás de desculpas, nem pede para amar com menos intensidade.
Doeu.
Porque eu não quero amar com intervalos.
Não sei amar com ressalvas.
Eu sou intensidade.
Sou profundidade.
Sou o tipo de pessoa que mergulha fundo — mesmo sabendo que pode não ter ninguém esperando no fundo da água.
Você dizia estar vivendo um turbilhão, com a cabeça a mil, tentando dar conta do trabalho, da mudança, do futuro.
Eu compreendi.
Compreendi cada palavra, cada insegurança, cada entrelinha do seu cansaço.
Mas o que você não viu — ou talvez tenha escolhido não ver — é que o amor que eu oferecia não era um peso, e sim um porto.
Enquanto você olhava para a estrada à frente, eu estava ali, do lado, com as mãos estendidas, disposto a caminhar junto, mesmo com os ventos contrários, mesmo sem garantias.
E ainda assim, você preferiu ir só.
Você disse que precisava ser egoísta, que não queria carregar pensamentos que te prendessem.
E tudo bem.
É legítimo.
Mas saiba… ao escolher caminhar sem mim, você também deixou para trás alguém que teria te amado com uma lealdade rara, alguém que já sonhava com o momento de fazer daquele amor algo ainda mais real, mais firme, mais comprometido.
Eu tinha tudo preparado — o pedido, o presente, o dia.
E é irônico pensar que hoje, tudo isso virou lembrança de um plano que nem chegou a acontecer.
Doeu.
Dói.
Mas não como antes. Agora dói como quem olha uma ferida cicatrizando devagar, latejando, mas fechando.
A dor, embora forte, já não me paralisa.
Ela pulsa, sim, mas já não dita mais meus passos.
E no meio desse processo, ficou claro para mim que quem perde, de verdade, não é quem amou demais.
É quem não soube receber esse amor.
É quem não teve coragem de ficar quando mais precisava ser presença.
É quem se ausentou quando tudo o que se pedia era um gesto de permanência.
Eu não quero amar alguém com data e hora marcada.
Não sou o tipo de homem que vive de encontros rasos, de sorrisos apressados, de beijos entre voos.
Eu sou oceano.
Sou profundidade, sou entrega — e você percebeu isso.
E se não posso ser assim ao seu lado, então prefiro ressignificar esse amor, transformá-lo em algo que caiba dentro do espaço que você está construindo para si.
Vai ser melhor para ambos.
Eu não sou, e não me permito ser, na vida de ninguém, uma pessoa que se coloca na balança para ver se tem peso suficiente para permanecer.
Eu me entrego por inteiro, mas não aceito ser apenas um pedaço, uma parte conveniente que se encaixa no que sobra do tempo.
Porque amar, para mim, nunca foi sobre encaixar quando dá e "viver a presença quando conseguir".
É sobre fazer sentido, sobre querer estar, sobre dividir a caminhada principalmente quando ela é desafiadora.
Hoje, sigo em frente.
Levo comigo cada lembrança, cada sorriso, cada momento bonito.
Mas deixo para trás tudo aquilo que não me cabe mais: a espera, a dúvida, o espaço que precisei me encolher para caber.
Não voltarei atrás.
Não porque o amor acabou — ele ainda existe aqui, com a mesma força — mas porque aprendi, com a dor, que amar não é insistir em quem não está disposto a permanecer.
E se um dia o destino, em sua dança curiosa, decidir cruzar de novo nossos caminhos, que seja quando você for capaz de amar com a mesma inteireza com que fui capaz de te amar.
Porque agora, já não me contento com migalhas.
Já não me iludo com a presença quando der.
Ou é inteiro — ou eu sigo só.
Mas sigo inteiro, ainda que em pedaços.
E por mais que doa agora, como você mesmo disse, prefiro preservar esse sentimento que construímos como algo puro, bonito, mas que precisa se transformar — talvez em amizade, talvez em memória, talvez apenas em silêncio.
Porque apesar de tudo, eu ainda acredito no amor.
Inteiro. Real. Presente.
Do tipo que não escorre pelos dedos.